quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Cartas marítimas



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Inspirada pelo fim da leitura de "Na praia" de Iwan McEwan, ou talvez no simples bater-pernas pela Paulista, comprei e li hoje (impossível parar) "Cartas Portuguesas", de Mariana Alcoforado. Publicada em autoria anônima, a compilação apresenta cinco cartas provavelmente escritas por uma freira portuguesa em clausura desde os 12 anos de idade para um militar francês no século XVII. Tristes, as correspondências foram avaliadas por Rilke, Russeau e outros tantos pesquisadores e são tidas até os dias atuais como o mais puro relato de amor e paixão já "lidos" na literatura ocidental.


São cerca de 70 páginas em uma edição de bolso da L&PM, mas contém em toda sua pequenez em tamanho, a grandiosidade do sentimento de desconsolo e abandono de uma rejeição, da luta de uma mulher enclausurada por uma paixão que terminou por ser cruel e fatal. Ao mesmo tempo que ela amaldiçoa seu amante, ela o perdôa por ter lhe permitido amar de tal forma. Da mesma forma que ela condiciona sua vida de amargura e angústia a ele, ela também condiciona sua morte ao não amá-lo ou não o tê-lo amado.


"Na praia" por sua vez narra a tristeza de uma relação entre recém-casados (ambos virgens) em pleno início da década de 60, antes da verve de libertação sexual. Fadado ao desencontro das duas vidas, o livro deixa, contudo, embora paradoxalmente, a esperança na desesperança. Fica aquela idéia Vinícius .... antes ter amado e sofrido do que não sofrer e não ter amado.

Publicamente me vejo como essas personagens; ora a freira de amor real e carnal, ora a jovem musicista frígida, embora precocemente libertária e, infelizmente, incompreendida.


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Deixo um breve trecho da terceira carta de Mariana:


"Adeus! Parece-me que falo demais no estado deplorável em que me encontro. No entando, do fundo do meu coração te agradeço o desespero que me causas, e detesto a tranqüilidade que vivi antes de te conhecer."