domingo, 27 de maio de 2007

Nos mantos de Vesta

O sol desse meio inverno começa a se deitar, meus braços, pernas e pescoço tomaram ligeiramente para a direita indicando o travesseiro que parece estar simplesmente tão perto. Mas, não. Alguma voz mecânica insiste que é preciso resistir ao charme de Vesta e voltar a rotina que tanto proíbe o sossego. O próprio sibilar da palavra é tentador. Sossego. Vontade de sumir, no solfejo sossegado de qualquer canção para erê dormir. Aliterações que literatos condenariam, mas oferecendo toda liberdade para tentar, provar, errar e aproveitar cada detestável repetição.


***


O Sono

Álvaro de Campos

O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim —
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
E o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.

O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.

Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.

Meu Deus, tanto sono! ...


***



Gosto de pés. Não como fetiche, mas como todo o cansaço que representam em cada rugazinha estrategicamente marcada na base dos dedos.


terça-feira, 1 de maio de 2007

vida?

Hoje: fragmentos do discurso amoroso...Barthes.


Escrever por fragmentos: os fragmentos são então pedras sobre o contorno do círculo: espalho-me à roda: todo o meu pequeno universo em migalhas; no centro, o quê?”