domingo, 3 de junho de 2007

Bate-papo no São Pedro e São Paulo

Conversava com um novo amigo sobre novas ondas de misticismo e religião que aparentam conquistar inúmeras pessoas no mundo inteiro. A nova mania é o saber-ser da física quântica, com seus "segredos" transcritos em livros e filmes. Novamente, não julgo, mas devo responder ao que me sempre é questionado como se eu fosse uma herege ou algo do tipo. Por exemplo, compreendo toda essa alusão que se faz ao desejo, projeção e materialização. Se a vontade é verdadeira e as "ligações'' e elos entre os seres também, então o objeto e ou conquista abstrata se materializará. Meu problema com tudo isso: e a África? e a guerra na Palestina? No primeiro caso, há milhões de pessoas pensando e exaltando em uníssono o verbete "comida" e no segundo a palavra "paz" é igualmente manifestada. Porém, dado o fatídico DESTINO não conseguem nem um nem outro. Os crentes (e dou graças - na própria linguagem- que alguém crê em algo) justificam apontando algo como justiça divina, reencarnações, planos, karma, penitência, promessa de paraíso. Eu gostaria de crer, mas essa onipotência, para mim, está no mínimo, em mãos um tanto sádicas. Não consigo entender como é possível justificar a miséria, a fome e a morte assim tão facilmente como destino, ou Deus. Me eximo então dessa culpa? Não. Pois embora não a veja acontecendo tão cedo, projeto esse Deus em revolução, transformação social. O misticismo terá que abrir espaço para uma mudança do capital, por mais clichê que ele soe. Fica então meu desabafo e no fundo uma vontadezinha de crer e assim, eximir-me da culpa e projetar minhas angústias em Deus e justiça do destino.



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Nesse momento, algo meu:





Conversa agnóstica



Tem um monge

que anda ligeiramente apressado

no meio de tantos não-monges

- aqueles travestidos com hábito.



Anualmente em convenção,

o frade faltou ao encontro.

Pobre religioso,

achou que chegaria atrasado.



Ah. Mas a freira e a mestre hindú.

Essas sim. Faziam sexo performático.



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E para esse mesmo amigo, algo de Mia Couto, em "Um rio chamado tempo, uma casa chamada Terra":

"Uma secreta inveja o roía por dentro. Queria ser ele a partir, a romper com tudo em trânsito para um outro ser. Não era que concordasse com os ideais de Fulano. Estava era cansado. A injustiça não podia ser mando divino. E a sua instituição se acomodara tanto, que parecia ajoelhar-se mais perante aos poderosos que perante a Deus.

-Imagino quanto teu pai sofre a ver tudo que está a acontecer.

Mas, a miséria em Luar-do-Chão era, para o sacerdote, somente a antevisão do que iria acontecer com as nações ricas. A violência dos atentados nas grandes capitais? Para ele era apenas um presságio. Não era só gente inocente que morria. Era o colapso de todo um modo de viver. Pena nao haver uma crença para onde fugir, como fizera Fulano Malta há vinte anos."





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E sobre o título: sim, uma alusão meia-boca ao Conversa na Catedral de Mario Vargas Llosa, que assumo, não consegui acabar de ler....sempre com a justificativa da falta de tempo. (Mas, passei da metade...JURO, seguindo o vocabulário cristão desse post.) Ah. E é também uma homenagem a "um dos melhores bares de São Paulo" que fiquei muito feliz de conhecer.