segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Assim, de vez em quando...




Acordo com uma vontade imensa de roubar todos os sentimentos do mundo; de todas as pessoas e jogá-los em um saquinho só meu. Nele, o qual denominaria meu “saquinho egoísta” estariam todos os desejos, os medos, os ódios, os amores, as lembranças de todos no mundo. A humanidade por sua vez, não sentiria muita falta dos seus próprios sentimentos. (Talvez das lembranças). E logo recomeçaria a encher o próprio estoque, ou os próprios saquinhos.


Pois então, viveriam suas vidas e acumulariam tudo de novo. Mas, eu, ah! Eu sim teria por um momento todo o sentimento do mundo inteiro. Parafraseando Drummond, eu guardaria ainda que só para mim (não correria o risco de dar idéias aos outros) tudo o que foi sentido por todo mundo em determinado instante.


Levaria comigo (e colocaria no saco) só as lembranças menos queridas, aquelas por vezes deixadas de lado no meio das sinapses que vão e vêm. Levaria um cheiro, deixado por sua pequenez; um beijo, deixado pelo pequeno asco que ele causava; um pêlo – afinal, ninguém quer lembranças de pêlos. Levaria um doce comido pela metade e que ficou grudado embaixo da cadeira de balanço. Roubaria um pedaço de algodão ou de gaze que estancou um corte com a faca proibida da mãe. Pegaria só uma tampa de bic, mordida em dia de tensão porque ele não ligou.


Pegaria tudo, assim, de vez em quando. E aí, quando essas memórias e sentimentos se perdessem neles mesmos, roubados pelo próprio tempo eu os devolveria aos lugares de origem. Imaginem o rebuliço que seria reencontrar a tampa da caneta, a gaze e o maldito pentelho.


***


Como a linguagem foi bastante infantil, lembro de um poema (que não é tão infantil), mas que eu recitava muito quando menina:


O MUNDO É GRANDE

Drummond

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.