quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Macbeth, o sono e a maravilha do domínio público

Passeando pelo mundo virtual, encontrei boa parte das peças de Shakespeare disponíveis e gratuitas para download. (www.dominiopublico.gov.br). Decidi então "postar" um dos meus diálogos favoritos da minha peça "shakespeariana" favorita: Lady Macbteh e Macbeth conversam sobre a morte do sono; barulhos e a perseguição de assassinar o "dormir dos justos". Não somos todos assassinos de sono, visitando uns aos outros com nossas adagas entre as mãos e as vendo assim afiadas, mirando a nossa direção.

Enquanto isso, dormi 100 anos.





"MACBETH - Por que causa não pude, então, dizer "Amém?" De bênção tinha necessidade mui premente; mas na garganta o "Amém" ficou pegado.

LADY MACBETH - Essas coisas não devem ser pensadas dessa maneira. E de deixar-nos loucos.

MACBETH - Uma voz pareceu-me ouvir, aos gritos de: "Não durmais! Macbeth matou o sono!" o meigo sono, o sono que desata a emaranhada teia dos cuidados, que é o sepulcro da vida cotidiana, banho das lides dolorosas, bálsamo dos corações feridos, a outra forma da grande natureza, o mais possante pábulo do banquete da existência.

LADY MACBETH - Que pretendeis dizer?

MACBETH - Por toda a casa continuava a gritar: "Basta de sono! Não durmais! Glamis destruiu o sono! Por isso Cawdor já dormir não pode, Macbeth dormir não pode!"

LADY MACBETH - Quem gritava por esse modo? Ora, meu digno thane, relaxais vossas nobres energias considerando as coisas por maneira tão doentia. Arranjai um pouco de água, para das mãos tirardes todas essas testemunhas manchadas. Por que causa trouxestes os punhais de onde se achavam? Precisam ficar lá. Tornai a pô-los em seus lugares e sujai de sangue os criados que ainda dormem.

MACBETH - Não; não volto. Tenho pavor só de pensar no feito; voltar a contemplá-lo me é impossível.

LADY MACBETH - Oh! que vontade fraca! Dai-me as armas. Os mortos e os que dormem são pinturas, nada mais. É somente o olho da criança que tem medo do diabo desenhado. Se estiver a sangrar, deixarei tintos com isso o rosto de seus próprios criados, pois é preciso que pareça que eles o crime cometeram.
(Sai lady Macbeth)

MACBETH - Onde batem? Que se passa comigo, para um simples ruído apavorar-me? E aquelas mãos, ai! que os olhos me arrancam? Todo o oceano do potente Netuno poderia de tanto sangue a mão deixar-me limpa? Não; antes minha mão faria púrpura do mar universal, tornando rubro o que em si mesmo é verde.

(Volta lady Macbeth.)

LADY MACBETH - De vossa cor as mãos agora tenho; mas de possuir ficara envergonhada um coração tão branco.

(Pancadas dentro.)

Ouvi! Novas batidas. Ide logo vestir vosso roupão; se nos chamarem, não devemos mostrar que não dormimos. Não deveis entregar-vos a essas cismas tão miseravelmente.

MACBETH - Conhecer o que fiz... Melhor me fora se não me conhecesse."