sábado, 22 de setembro de 2007

Algodão ou espinho?

Ando de forma bêbada pelas esquinas de mim mesma. Descubro que pouco sei do caminho; não conheço nada efetivamente e, de repente, quando encontro um mapa e sigo as determinações acabo indo para mais longe do que quero. Quando me perguntam o que é, o que sou, o que gosto, quero, desejo, anseio, detesto, temo... respondo sempre um grande e luminoso “não sei”.

Pois então, sigo no verão não verão que começa a se apresentar em São Paulo. Sigo ouvindo canções na tentativa de mapeá-las para então me conhecer. À cratera aí vou!

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Love And Some Verses Lyrics

(Iron & Wine)

Love is a dress that you made

long to hide your knees

love to say this to your face,

"I'll love you only"

for your days and excitement,

what will you keep for to wear?

someday drawing you different,

may I be weaved in your hair?

Love and some verses you hear

say what you can't say

love to say this in your ear,

"I'll love you that way"

from your changing contentments,

what will you choose for to share?

someday drawing you different,

may I be weaved in your hair?

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Meu meio seio

Dentre todas as Almas já criadas

Emily Dickinson


Dentre todas as Almas já criadas -
Uma - foi minha escolha -
Quando Alma e Essência - se esvaírem -
E a Mentira - se for -

Quando o que é - e o que já foi - ao lado -
Intrínsecos - ficarem -
E o Drama efêmero do corpo -
Como Areia - escoar -

Quando as Fidalgas Faces se mostrarem -
E a Neblina - fundir-se -
Eis - entre as lápides de Barro -
O Átomo que eu quis!

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No ritmo de menina, posto um meu:

Que fique claro que em nenhum momento me comparo a Emilly D. Certamente uma das grandes representantes da poesia. A ambigüidade e a multiplicidade de significados que ela buscou em seus versos fazem do resto dos "pretensos escritores" (como eu) descobrir que somos ainda (e talvez, para sempre) muito literais.



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Poeminha de contos-de-fada



Tem um príncipe:

montado num cavalo chileno de sela verde.

Ele queria uma princesa

e encontrou uma rã.

Ele queria dar um anel a uma moça,

deu foi uma adaga ao vilão.

Ele queria pescar uma truta para o jantar

e acabou comendo as minhocas da isca.

Ele queria ser amado,

e o foi verdadeiramente.

A rã aguardou sua transformação,

mas como lagarta ao casulo voltou.



segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Assim, de vez em quando...




Acordo com uma vontade imensa de roubar todos os sentimentos do mundo; de todas as pessoas e jogá-los em um saquinho só meu. Nele, o qual denominaria meu “saquinho egoísta” estariam todos os desejos, os medos, os ódios, os amores, as lembranças de todos no mundo. A humanidade por sua vez, não sentiria muita falta dos seus próprios sentimentos. (Talvez das lembranças). E logo recomeçaria a encher o próprio estoque, ou os próprios saquinhos.


Pois então, viveriam suas vidas e acumulariam tudo de novo. Mas, eu, ah! Eu sim teria por um momento todo o sentimento do mundo inteiro. Parafraseando Drummond, eu guardaria ainda que só para mim (não correria o risco de dar idéias aos outros) tudo o que foi sentido por todo mundo em determinado instante.


Levaria comigo (e colocaria no saco) só as lembranças menos queridas, aquelas por vezes deixadas de lado no meio das sinapses que vão e vêm. Levaria um cheiro, deixado por sua pequenez; um beijo, deixado pelo pequeno asco que ele causava; um pêlo – afinal, ninguém quer lembranças de pêlos. Levaria um doce comido pela metade e que ficou grudado embaixo da cadeira de balanço. Roubaria um pedaço de algodão ou de gaze que estancou um corte com a faca proibida da mãe. Pegaria só uma tampa de bic, mordida em dia de tensão porque ele não ligou.


Pegaria tudo, assim, de vez em quando. E aí, quando essas memórias e sentimentos se perdessem neles mesmos, roubados pelo próprio tempo eu os devolveria aos lugares de origem. Imaginem o rebuliço que seria reencontrar a tampa da caneta, a gaze e o maldito pentelho.


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Como a linguagem foi bastante infantil, lembro de um poema (que não é tão infantil), mas que eu recitava muito quando menina:


O MUNDO É GRANDE

Drummond

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Macbeth, o sono e a maravilha do domínio público

Passeando pelo mundo virtual, encontrei boa parte das peças de Shakespeare disponíveis e gratuitas para download. (www.dominiopublico.gov.br). Decidi então "postar" um dos meus diálogos favoritos da minha peça "shakespeariana" favorita: Lady Macbteh e Macbeth conversam sobre a morte do sono; barulhos e a perseguição de assassinar o "dormir dos justos". Não somos todos assassinos de sono, visitando uns aos outros com nossas adagas entre as mãos e as vendo assim afiadas, mirando a nossa direção.

Enquanto isso, dormi 100 anos.





"MACBETH - Por que causa não pude, então, dizer "Amém?" De bênção tinha necessidade mui premente; mas na garganta o "Amém" ficou pegado.

LADY MACBETH - Essas coisas não devem ser pensadas dessa maneira. E de deixar-nos loucos.

MACBETH - Uma voz pareceu-me ouvir, aos gritos de: "Não durmais! Macbeth matou o sono!" o meigo sono, o sono que desata a emaranhada teia dos cuidados, que é o sepulcro da vida cotidiana, banho das lides dolorosas, bálsamo dos corações feridos, a outra forma da grande natureza, o mais possante pábulo do banquete da existência.

LADY MACBETH - Que pretendeis dizer?

MACBETH - Por toda a casa continuava a gritar: "Basta de sono! Não durmais! Glamis destruiu o sono! Por isso Cawdor já dormir não pode, Macbeth dormir não pode!"

LADY MACBETH - Quem gritava por esse modo? Ora, meu digno thane, relaxais vossas nobres energias considerando as coisas por maneira tão doentia. Arranjai um pouco de água, para das mãos tirardes todas essas testemunhas manchadas. Por que causa trouxestes os punhais de onde se achavam? Precisam ficar lá. Tornai a pô-los em seus lugares e sujai de sangue os criados que ainda dormem.

MACBETH - Não; não volto. Tenho pavor só de pensar no feito; voltar a contemplá-lo me é impossível.

LADY MACBETH - Oh! que vontade fraca! Dai-me as armas. Os mortos e os que dormem são pinturas, nada mais. É somente o olho da criança que tem medo do diabo desenhado. Se estiver a sangrar, deixarei tintos com isso o rosto de seus próprios criados, pois é preciso que pareça que eles o crime cometeram.
(Sai lady Macbeth)

MACBETH - Onde batem? Que se passa comigo, para um simples ruído apavorar-me? E aquelas mãos, ai! que os olhos me arrancam? Todo o oceano do potente Netuno poderia de tanto sangue a mão deixar-me limpa? Não; antes minha mão faria púrpura do mar universal, tornando rubro o que em si mesmo é verde.

(Volta lady Macbeth.)

LADY MACBETH - De vossa cor as mãos agora tenho; mas de possuir ficara envergonhada um coração tão branco.

(Pancadas dentro.)

Ouvi! Novas batidas. Ide logo vestir vosso roupão; se nos chamarem, não devemos mostrar que não dormimos. Não deveis entregar-vos a essas cismas tão miseravelmente.

MACBETH - Conhecer o que fiz... Melhor me fora se não me conhecesse."